Programa
9h50. Sessão de abertura, com Pedro Cardim, Júlio Joaquim da Silva e Isabel Araújo Branco.
10h. Conferência de abertura, por Júlio Joaquim da Silva: «Francisco Cunha Leal e Gregório Marañon: uma amizade ibérica». Moderação de Teresa Lousa.
10h30-12h30. Visões históricas. Moderação de Pedro Cardim.
- Roberta Stumpf: «Abusos e conflitos de poder na Capitania de Goiás na segunda metade do século XVIII».
- Benita Herreros Cleret de Langavant: «Las fronteras del Alto Paraguay a fines del siglo XVIII: límites indefinidos y resistencias indígenas».
- Lia Nunes: «A anti-biografia de Gregorio Lopez, um homem na-contra-e-além-da religião no século XVI. Conceitos alternativos para histórias alternativas».
- Carolina Esteves Soares: «A pluralidade de agentes na interacção diplomática entre Portugal e a Grã-Bretanha (1715-1780)».
- Miguel Rodrigues Lourenço: «A “querela missionológica no Japão” vista pelo Santo Ofício do México (1601-1614)».
14h/16h: Visões literárias. Moderação de Maria Fernanda de Abreu.
- Teresa Lousa e Cecília Barreira: «Imaginários do realismo fantástico no mundo hispânico: Julio Cortázar, Remédios Varo e Lima de Freitas».
- Armando Aguilar de León: «El héroe solar en ilustraciones medievales y en carteles de la Guerra Civil española.»
- Eduarda Barata: «As retóricas do poder: alguns casos nas literaturas ibérica e ibero-americana».
- Ana Baião: «O pensamento ibero-americano transgressor do Teatro do Oprimido».
9h50. Sessão de abertura, com Pedro Cardim, Júlio Joaquim da Silva e Isabel Araújo Branco.
10h. Conferência de abertura, por Júlio Joaquim da Silva: «Francisco Cunha Leal e Gregório Marañon: uma amizade ibérica». Moderação de Teresa Lousa.
10h30-12h30. Visões históricas. Moderação de Pedro Cardim.
- Roberta Stumpf: «Abusos e conflitos de poder na Capitania de Goiás na segunda metade do século XVIII».
- Benita Herreros Cleret de Langavant: «Las fronteras del Alto Paraguay a fines del siglo XVIII: límites indefinidos y resistencias indígenas».
- Lia Nunes: «A anti-biografia de Gregorio Lopez, um homem na-contra-e-além-da religião no século XVI. Conceitos alternativos para histórias alternativas».
- Carolina Esteves Soares: «A pluralidade de agentes na interacção diplomática entre Portugal e a Grã-Bretanha (1715-1780)».
- Miguel Rodrigues Lourenço: «A “querela missionológica no Japão” vista pelo Santo Ofício do México (1601-1614)».
14h/16h: Visões literárias. Moderação de Maria Fernanda de Abreu.
- Teresa Lousa e Cecília Barreira: «Imaginários do realismo fantástico no mundo hispânico: Julio Cortázar, Remédios Varo e Lima de Freitas».
- Armando Aguilar de León: «El héroe solar en ilustraciones medievales y en carteles de la Guerra Civil española.»
- Eduarda Barata: «As retóricas do poder: alguns casos nas literaturas ibérica e ibero-americana».
- Ana Baião: «O pensamento ibero-americano transgressor do Teatro do Oprimido».
Ana Baião: «O pensamento ibero-americano transgressor do Teatro do Oprimido»
A presente comunicação pretende lançar a discussão sobre o pensamento ibérico-americano transgressor do Teatro do Oprimido que, nascido e desenvolvido em países da América Latina, nomeadamente Brasil, Peru, Chile e Argentina, posiciona-se como uma estética política distanciada das convenções teatrais europeias.
Consideramos que o pensamento ibérico-americano transgressor do Teatro do Oprimido é um pensamento que incorpora uma posição epistemológica de conhecimentos alternativos e conhecimentos considerados marginais, na senda do preconizado por Boaventura de Sousa Santos (1988). Esta linguagem teatral tem como característica primordial, a criação coletiva do texto, a unicidade das realidades vivenciadas, as experiências dos curingas, as diferentes situações de opressão e a diversidade dos praticantes.
Este processo de constituição de “texto”, de cena e de composição das personagens é uma prerrogativa que acompanha o TO desde o seu surgimento (1971), o transporta das margens para o centro, por meio da luta pelas igualdades e justiça social espelhada no produto teatral como símbolo da esperança, revelando um processo de emancipação, condição sine qua non, dos oprimidos, permitindo-os posicionarem-se autonomamente através da palavra em contextos sociais, políticos e artísticos.
É uma linguagem teatral que se posiciona a partir do pensamento considerado marginal porque quer refletir as realidades específicas de cada grupo, de cada comunidade, das pessoas que praticam Teatro do Oprimido e ao refletir essas realidades, questiona na sua produção o pensamento dominante. Ao permitir a entrada do espetador no espaço cénico com propostas de modificação da situação de opressão apresentada, o Teatro do Oprimido posiciona-se como o teatro do diálogo entre culturas e contextos sociais dos atores e dos espetadores.
Ana Paula Baião Aniceto: Doutorada em Estudos Culturais com a tese ‘Teatro do Oprimido: uma poética da transgressão. Formando Espect- Atores’ pela Universidade Nova de Lisboa. Mestre em Expressão Dramática e Educação pela Faculty of Education, Birmingham. Licenciada em Formação de Atores pela Escola Superior de Teatro e Cinema.
Iniciou a sua atividade na Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve no ano letivo de 93/94. É atualmente professora-adjunta. Nesta instituição é coordenadora da área científica de Educação Artística. É docente nos cursos de Educação Básica, Mestrado em 1.º e 2.º ciclo Mat/ Ciên, Mestrado em Pré-Escolar, Imagem Animada e Educação Social.
Em 1997 foi cofundadora da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, atriz e formadora na mesma. Desde então tem colaborado com a companhia ao criar em 2001 o programa de Teatro Educativo Interativo com a peça “O Longo Sono da Heroína” e em 2006 “Nexos do Sexo”. É também consultora Pedagógica das oficinas de formação e dos espetáculos para a infância da Companhia de Teatro Profissional de Tavira, Al – Masrah e da Companhia Al - Teatro. Atualmente ministra formação de Teatro do Oprimido nesta companhia. É encenadora e autora da peça de Teatro Educativo Interativo, “Olha ao espelho! O que vês?” Desde 2010 que colabora como atriz e coringa do Grupo de Teatro do Oprimido do Algarve, bem como colabora como atriz e coringa do Grupo de Teatro do Oprimido Pedra no Sapato.
Armando Aguilar de León: «El héroe solar en ilustraciones medievales y en carteles de la Guerra Civil española»
Las representaciones del héroe solar han sido analizadas en los contextos de la historia de las religiones, de la psicología de las profundidades y de los estudios sobre el imaginario. Inicialmente, estas disciplinas enfocaron la fuerza simbólica de la lucha entre el héroe y el monstruo. Con todo, la mitocrítica también se ha interesado en los contenidos sociohistóricos de estas figuras arquetípicas. Desde esta perspectiva, podemos observar que las proyecciones medievales del héroe solar están determinadas por el imaginario cristiano y caballeresco, mientras que durante la Guerra Civil Española este enfrentamiento mítico fue representado de acuerdo con las líneas ideológicas de los bandos contrincantes. Este análisis explora, entonces, los significados sociohistóricos de la iconografía del héroe solar en láminas medievales y en carteles de la Guerra Civil Española con el objetivo de establecer relaciones entre producción plástica, contexto sociohistórico e imaginario heroico.
Armando Aguilar de León: Formado em Língua e Literatura na Universidad Nacional Autónoma de México, com estadas na França e na Holanda, Armando Aguilar de León realiza estudos de doutoramento focados na resignificação sociohistórica dos mitos heroicos gregos no contexto das culturas ibéricas. Interessa-se também nas reescritas ibéricas das tragedias grega e isabelina. Trabalhou na Facultad de Filosofía y Letras da UNAM, no Colegio de Ciencias y Humanidades, também da UNAM e, actualmente, é docente na Universidade Europeia, na ESHTE e na FCSH da UNL.
Benita Herreros Cleret de Langavant: «Las fronteras del Alto Paraguay a fines del siglo XVIII: límites indefinidos y resistencias indígenas»
Durante el siglo XVIII, el espacio del Alto Paraguay fue un entorno sobre el que las monarquías ibéricas trataron de lograr un dominio efectivo y delimitar unos espacios de influencia exclusiva, objetivos que requerían lograr la adhesión de aquellas poblaciones indígenas que hasta entonces habían permanecido autónomas y presentado retos al avance de los colonizadores.
En esta comunicación se partirá del análisis de los esfuerzos que España y Portugal realizaron para cristalizar unos límites fronterizos entre sus dominios americanos, poniéndolos en paralelo con las actividades transfronterizas que cuestionaban estos límites y con procesos de resistencia indígena frente a la consolidación de la presencia europea en la región, con el objetivo de contribuir al debate sobre la construcción de las fronteras y sus transformaciones a lo largo del tiempo.
Benita Herreros Cleret de Langavant: Desde 2017 es investigadora postdoctoral FCT en el CHAM-Centro de Humanidades (FCSH, Universidade Nova de Lisboa), donde desarrolla su investigación sobre la construcción de las fronteras en el espacio del Alto Paraguay en el siglo XVIII y sobre las relaciones interculturales surgidas en este entorno. Ha sido Research Assistant en la Universidad de Reading (UK), y realizó su doctorado en Historia en la Universidad de Cantabria (2016) y el máster en Estudios Latinoamericanos de la Universidad de Stanford (USA) bajo el patrocinio del programa Fulbright. Sus últimas publicaciones son: “Alianzas, negociación y conflictos en las misiones de la frontera chaqueña durante el siglo XVIII”, en V. Favarò, M. Merluzzi y G. Sabatini (coords.) Fronteras. Representaciones, Integraciones y Conflictos entre Europa y América, S. XVI-XX (2017), y “La frontera del Alto Paraguay a fines del siglo XVIII: diplomacia, cartografía y cotidianeidad”, en S. Truchuelo y E. Reitano (eds.) Las fronteras en el Mundo Atlántico (siglos XVI-XIX) (2017).
Carolina Esteves Soares: «A pluralidade de agentes na interacção diplomática entre Portugal e a Grã-Bretanha (1715-1780)»
O foco principal deste projecto são os agentes e as interacções diplomáticas entre Portugal e a Grã-Bretanha, entre 1715-1780. Serão estudadas as seguintes questões: as condições – sociais, políticas e materiais – que marcaram as missões dos agentes diplomáticos; as redes em que estes se inseriam e os laços que construíam; as modalidades (formais e informais) de negociação; a interacção política e cultural resultante dessa actividade; e, ainda, a ligação entre propaganda e diplomacia. Os actores da diplomacia serão integrados na dinâmica social do seu tempo, recorrendo-se à prosopografia (para a caracterização do perfil sócio-profissional dos membros desse grupo) e à análise de redes (para entender o peso das ligações sociais em que se encontravam envolvidos). A finalidade é realizar uma história cultural, política e social da interacção diplomática entre Portugal e a Grã-Bretanha.
Assim, esta investigação pretende responder a duas principais perguntas:
1) De que forma os agentes diplomáticos portugueses e britânicos influenciaram as relações políticas, comerciais e culturais entre Portugal e a Grã-Bretanha?
2) Quais foram as ferramentas, meios e estratégias de negociação que os agentes diplomáticos desenvolveram e qual a intervenção de outros actores (informais) nesse processo?
Uma resposta cabal a estas perguntas obriga ao estudo aprofundado dos métodos de negociação formal e informal, bem como à reconstrução das redes de informação e de influência em que esses agentes se inseriam. Pretende-se aferir o papel dos diplomatas na conformação das relações entre a Portugal e a Grã-Bretanha; a intervenção no processo diplomático de actores informais, como a família do diplomata, as suas mulheres, os espias e os informadores, os artistas, os viajantes e os mercadores.
Esta investigação irá também estudar o perfil sócio-profissional dos diplomatas portugueses e britânicos (cuja composição sabemos ser distinta), e explicar quem protagonizava a decisão política em Londres e em Lisboa no que respeita à política externa. Assim, pretendo identificar os principais actores políticos; confrontar os dois sistemas diplomáticos (à partida distintos pelo carácter parlamentar de uma monarquia e absoluto da outra); e também observar outras entidades externas ao mundo diplomático que poderiam influenciar as suas resoluções (East Indian Company; Almirantado, Feitorias, etc.). A finalidade é entender a relação entre as estratégias definidas pelos governos e a agency dos actores envolvidos na interacção diplomática. O estudo aprofundado destes agentes permitirá compreender de que forma os interesses de indivíduos e de grupos influenciaram o relacionamento entre estes dois reinos, e fazer uma (re)avaliação da estabilidade e pertinência da aliança.
Ao observar estas redes e multiplicidade de actores quero, igualmente compreender em que medida estas interacções diplomáticas envolveram a circulação de modelos culturais, científicos ou políticos.
Carolina Esteves Soares: Mestre em História na especialidade de História das Relações Internacionais pela Faculdade de Letras da Universidade Lisboa e licenciada em História pela mesma Universidade, frequenta agora o doutoramento em História, especialidade em História Moderna, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalho realizado no âmbito da bolsa de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Foi premiada em 2012 com a bolsa da Universidade de Lisboa/Fundação Amadeu Dias pelo projecto A (re) construção do diálogo entre Lisboa-Madrid (1668-1703). No âmbito das investigações para tese de mestrado, fez um estágio na Universidad Complutense sob orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Teresa Nava Rodriguez. Foi investigadora bolseira da CIDH – Universidade Aberta / CLEPUL-Faculdade de Letras, participando em diversos projectos científicos como o Dicionário dos Antis. A Cultura Portuguesa em Negativo, o projeto Aprender Madeira e as Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, coordenados pelo professor José Eduardo Franco.
É igualmente investigadora no CHAM, no CH-ULisboa e também sócia-fundadora do Instituto Prometheus.
Tem desenvolvido os seus trabalhos em História da diplomacia nos séculos XVII e XVIII, focando-se na observação da maquinaria diplomática e dos processos de negociação. Também tem dado particular ênfase ao papel dos agentes diplomáticos na construção de redes de informação e o seu impacto na tomada de decisões.
Eduarda Barata: «As retóricas do poder: alguns casos nas literaturas ibérica e ibero-americana»
Entrar no âmbito da retórica é entrar na paisagem árida de um tema e conceito teórico que, abundantes vezes, tem sido menosprezado como campo profícuo de referências úteis e férteis para os estudos literários (e não só). Tendo sofrido uma ampla descredibilização nos séculos XVIII e XIX, é em alguns países, como na Alemanha, que os estudos da retórica ganham novo fôlego no séc. XX e XXI. E a literatura, nomeadamente as literaturas ibérica e ibero-americana do século XX, abre novas rotas de interpretação e análise, consolidando a retórica nos estudos literários.
Algumas obras do século XX, como Tirano Banderas, de Ramón del Valle-Inclán, El otoño del patriarca de Gabriel García Márquez, Soldados de Salamina, de Javier Cercas, Girasoles Ciegos, de Alberto Méndez, A Balada da Praia dos Cães e Dinossauro Excelentíssimo de José Cardoso Pires, relacionados com períodos históricos de crise ou de ditadura sugerem a criação, através de uma retórica de poder ou desafio a esse poder, de uma memória histórica que se desvia, demarca e desvincula das verdades oficialmente instituídas pelos regimes. É por esta via que a comunicação que apresento irá seguir: tentando demonstrar como, a partir de obras relacionadas com os períodos das ditaduras ou ditadores, se consolidam retóricas de poder que transcendem o tempo e o espaço e se conjugam para formar uma pluralidade de processos de retórica e de memória na construção das verdades.
Eduarda Barata: É assistente de investigação do CHAM – Centro de Humanidades (bolseira) e doutoranda em Estudos Literários Comparados na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sob a orientação científica da Professora Doutora Isabel Araújo Branco. Tem formação em Línguas, Literaturas e Culturas tanto na licenciatura (Inglês e Alemão), como no mestrado (Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos), sendo que para este último apresentou, sob orientação científica da Professora Doutora Maria Fernanda de Abreu, uma dissertação intitulada «Bestiários dispersos em obras de Gabriel García Márquez, Horacio Quiroga, José Cardoso Pires e Miguel Torga», em 2012. Neste momento, além de participar em projectos de investigação, elabora a sua tese de doutoramento sobre as retóricas do poder nas literaturas ibéricas e ibero-americanas.
Júlio Joaquim da Silva: «Francisco Cunha Leal e Gregório Marañon: uma amizade ibérica»
A presente conferência estuda as relações entre duas personagens centrais da política e da cultura ibérica do século XX. A relação de amizade pessoal, nascida de um encontro acidental em Espanha nos anos 30, manteve-se inalterável até ao longo das suas vidas. A comunhão do mesmo ideário democrático e a oposição a todo o tipo de totalitarismos, serviu de base às suas reflexões sobre as questões políticas e culturais do seu tempo. O estudo do universo intelectual, partilhado por ambos, permite-nos compreender a influência do pensamento de Gregório Marañon (1887-1960) nas análises de Francisco Pinto Cunha Leal (1888-1970), do regime salazarista, no início da guerra colonial, nos anos 60.
Júlio Joaquim da Costa Rodrigues da Silva: Doutorado em História e Teoria das Ideia (1999) pela FCSH da UNL. Professor Associado da FCSH da UNL (2011-2018). Coordenador do Doutoramento de História e Teoria das Ideias do Departamento de Filosofia da FCSH da UNL (2013-2018). Investigador Integrado (1987-2013) e Membro do Conselho Científico (1999-2013) do CHC da FCSH da UNL. Investigador Integrado e Membro do Conselho Científico do CHAM da FCSH da UNL (2013-2018). Investigador Colaborador do CEIS 20, da FLUC da Universidade de Coimbra (2007-2018. Membro da Associação Portuguesa de Ciência Política (2004-2018). Membro Efectivo do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar (2007-2018). Investigador Doutorado do Observatório Político (2008-2018). Membro do ECPR (2012-2018). Membro do SHARP (2016-2018).
Lia Nunes: «A anti-biografia de Gregorio Lopez, um homem na-contra-e-além-da religião no século XVI. Conceitos alternativos para histórias alternativas»
Neste trabalho coloco à discussão a forma que encontrei para contar a história do que foi considerado oficialmente pela Igreja Católica o primeiro eremita das Índias Ocidentais, Gregorio Lopez. Dada a existência de uma biografia hagiográfica que surgiu após a sua morte, em 1596, narrativa essa que marcou definitivamente o processo longo e nunca concluído da sua canonização, houve a necessidade de desmontar o discurso representativo da recepção e produção da história de um homem santo. Dessa análise crítica de discurso aparece um homem do século XVI que não se consubstanciou em modelo, mas que podemos tomar como exemplo da enorme complexidade com que os indivíduos lidaram com as enormes mudanças do seu tempo, em particular no que diz respeito ao que denominamos por Religião.
Munindo-me com conceitos e aparatos teóricos de outras ciências sociais, tento entender como se relacionava Gregório Lopez com as estruturas, as ideias, as profissões, as políticas e a até a economia da religião dominante nos espaços e tempos pelos quais ele viajou e nos quais viveu. Na realidade, figurando como uma personagem incontornável, ainda que marginal, na história religiosa ibero-americana do século XVI, Gregorio Lopez leva-nos a muitos contextos geográficos e sociais em que podemos, com ele, questionar a o sistema político-teológico que configurava a existência social de Espanha e Nova Espanha – que, com as salvaguardadas diferenças, podemos comparar com as outras formas que este sistema tomou nas relações entre a Europa, de onde proliferam os Cristianismos, e as Américas, que se tornaram invenções, derivações, ampliações geopolíticas dos variados sistemas das suas metrópoles.
Sem me poder aventurar em definições, mas aventurando-me numa reflexão multidisciplinar, assumo que os contributos de John Holloway, Zigmunt Bauman, Eduardo Viveiros de Castro, Boaventura de Sousa Santos foram essenciais para perceber como me estava a posicionar quando escolhi este objecto de estudo, este sujeito, e esta abordagem biográfica à história. O que pode acrescentar Gregorio Lopez ao nosso conhecimento acerca de um momento histórico tão concreto e complexo senão o exemplo de uma história alternativa? Como se faziam santos na época moderna? E o que nos podem ensinar o seu processo de canonização, a sua biografia e as múltiplas comunidades de interpretação que a receberam, sobre o que era ser cristão na segunda metade do século XVI?
Lia Nunes: Fez recentemente trabalhos de revisão no Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes, na Faculdade de Letras de Lisboa, de Dezembro de 2017 a Fevereiro de 2018. Em 2012 começou o doutoramento na Faculdade de Teologia e Estudos de Religião na Universidade de Groningen, na Holanda, que está na fase final. Obteve bolsa de Gestão de Ciência e Tecnologia (BGCT) para desenvolver trabalhos de investigação no Centro Interpretativo do Mosteiro de Santa-Clara-a-Velha de Coimbra, enquanto realizava o Mestrado em Humanidades Digitais, no âmbito do programa europeu EUROMACHS, entre a Universidade de Coimbra e a Universidade de Turku, na Finlândia. Licenciada em História pela Universidade de Coimbra (2003-2007), fez estágio profissional nos Açores, no Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, em 2008. Tem publicado regularmente sobre a abordagem da biografia à complexidade histórica da época pré-moderna, procurando uma perspectiva crítica sobre a dimensão religiosa nas sociedades ibéricas dos séculos XVI e XVII.
Miguel Rodrigues Lourenço: «A “querela missionológica no Japão” vista pelo Santo Ofício do México (1601-1614)»
Em 1993, no Colóquio Internacional Comemorativo dos 450 Anos de Amizade Portugal-Japão, João Paulo Oliveira e Costa propôs um enfoque sobre o problema da rivalidade ibérica a partir das tensões geradas em torno das estratégias de missionação praticadas no Japão pelos religiosos afectos ao padroado régio português e ao patronato castelhano. Longe de se ter limitado ao contexto nipónico, a “querela missionológica no Japão”, conforme a designou e historiou o autor, desenrolou-se nos palcos políticos europeus de Lisboa, mas sobretudo de Madrid e de Roma através de manobras políticas e diplomáticas e de um conflito panfletário e apologético. Uma das faces menos conhecida deste poliedro de influências políticas e debates doutrinais, no entanto, foi o que teve como centro a Nova Espanha e, em particular, o tribunal do Santo Ofício do México enquanto canal de comunicação entre o Japão, Manila e Madrid. Nesta comunicação pretendemos analisar o modo como a Inquisição novo-hispana geriu as informações sobre a “querela missionológica no Japão”, assim como o conjunto das atitudes institucionais mantidas a respeito de um território sobre o qual não detinha, em princípio, qualquer jurisdição.
Miguel Rodrigues Lourenço: É investigador do CHAM – Centro de Humanidades (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores), do Centro de Estudos de História Religiosa (Universidade Católica Portuguesa) e da Cátedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Encontra-se, presentemente, a desenvolver o seu doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A sua investigação tem incidido sobre as práticas de funcionamento do Santo Ofício em contexto asiático (com especial incidência em Macau, no Japão e nas Filipinas) e das representações cartográficas da Ásia Oriental e Sudeste Asiático nos séculos XVI e XVII. É co-autor de Fontes para a História de Macau no Século XVII (com Elsa Penalva) e autor de Macau e a Inquisição nos Séculos XVI e XVII – Documentos e de A Articulação da Periferia. Macau e a Inquisição de Goa (c. 1582-c. 1650).
Roberta Stumpf: «Abusos e conflitos de poder na Capitania de Goiás na segunda metade do século XVIII»
A atuação dos oficiais fazendários da América portuguesa era avaliada, no caso dos tesoureiros e almoxarifes, mediante a averiguação dos seus livros de contas. A dinâmica deste controle e a sua periodicidade nos conduzem, mais uma vez, para o debate sobre a centralidade de Lisboa na governação do seu Império ultramarino. Entretanto, é preciso saber em que medida este controle dos agentes régios era apenas um ritual a ser cumprido ou se de fato contribuiu para o combate aos abusos de poder. Nesta comunicação daremos destaque a este último ponto explorando um caso pontual que envolveu o Provedor da Capitania de Goiás no Setecentos.
Roberta Giannubilo Stumpf: Mestre em Universidade de São Paulo (2001) e doutora pela Universidade de Brasília (2009) concluiu seu pós-doutorado no CHAM em 2015. Desde 2016 é sub-diretora, investigadora integrada e bolsista do CHAM.
Seus temas de pesquisa mais recentes estão intrinsecamente relacionados às práticas administrativas da monarquia portuguesa sobretudo a questão da venalidade de ofícios nos séculos XVII y XVIII e a corrupção política. Participa em muitos projetos de investigação internacionais, especialmente com universidades espanholas.
Teresa Lousa e Cecília Barreira: «Imaginários do realismo fantástico no mundo hispânico: Julio Cortázar, Remédios Varo e Lima de Freitas»
Em Julio Cortázar (1914-1984) encontramos o jogo das grandes duplicidades, o fantástico e o impossível: encontro da compreensão do real. As palavras não são suficientes: o encontro entre um Eu e um Outro, na impossibilidade, o inqualificável, o desmesurado da existência, uma escrita filosófica profunda. A sua obra pode ser considerada como pertencente ao Realismo Fantástico (modalidade fantástica da literatura não separada da realidade). A pintora Remedios Varo (1908- 1963) através de um imaginário esotérico e hermético tenta através da sua pintura uma tentativa reproduzir o fundo do ser de um modo simbolicamente expressivo, e é talvez por isso que a sua pintura se enquadra no Realismo Fantástico onde se trabalham imagens visionárias e arquetípicas que surgem de uma ligação mítica e simbólica que subjaz a um Inconsciente Colectivo. Lima de Freitas (1927-1998), depois de ter passado pelo neorrealismo, evolui para uma estética ligada a novas leituras e experiências votadas ao inconsciente, à espiritualidade e à transcendência. É assim que o Realismo Fantástico que se anuncia na sua obra sobretudo a partir dos anos 80 e vai determinar a sua pintura e a sua teoria da arte doravante.
Teresa Lousa: Nasceu em 1978, em Lisboa. Licenciou-se em Filosofia na FCSH. O seu interesse por Estética e História da Arte conduziu-a ao Mestrado em Teorias da Arte na FBAUL, que a despertou para o interesse por temas e autores da Teoria da Arte Ibérica, nomeadamente Francisco de Holanda, autor que foi o alvo do seu Doutoramento concluído em 2013. Lecciona Estética desde 2008 e apresenta diversas sessões temáticas ao 3.º ciclo (doutoramento em Ciências da Arte e do Património) na FBAUL. Actualmente é investigadora integrada do CHAM onde colabora com o Sub-grupo Gerações Hispânicas coordenado pelo Professor José Esteves Pereira. Tem participado em múltiplos colóquios internacionais e escrito artigos e capítulos em antologias em torno de temas tão diversos como: Humanismo, Renascimento, Neoplatonismo, Furor Divino e Inspiração, Melancolia, Arte Macabra, Estética do Horror e Repulsivo, Morte e Arte, Estética e Sagrado, Sublime, Teoria do Génio, Arte visionária e êxtase, Arte e Género, Pluralismo estético, Hispanismo, etc...
Cecília Barreira: Professora Auxiliar Agregada em Cultura Portuguesa Contemporânea na FCSH-UNL. Especialista em Pensamento de Autores Portugueses Contemporâneos. Investigadora da Linha de Investigação Leitura. Investigadora colaboradora do Sub-grupo Gerações Hispânicas do Grupo Cultura, história e pensamento ibéricos e ibero-americanos do CHAM-Centro de Humanidades (UNL).
A presente comunicação pretende lançar a discussão sobre o pensamento ibérico-americano transgressor do Teatro do Oprimido que, nascido e desenvolvido em países da América Latina, nomeadamente Brasil, Peru, Chile e Argentina, posiciona-se como uma estética política distanciada das convenções teatrais europeias.
Consideramos que o pensamento ibérico-americano transgressor do Teatro do Oprimido é um pensamento que incorpora uma posição epistemológica de conhecimentos alternativos e conhecimentos considerados marginais, na senda do preconizado por Boaventura de Sousa Santos (1988). Esta linguagem teatral tem como característica primordial, a criação coletiva do texto, a unicidade das realidades vivenciadas, as experiências dos curingas, as diferentes situações de opressão e a diversidade dos praticantes.
Este processo de constituição de “texto”, de cena e de composição das personagens é uma prerrogativa que acompanha o TO desde o seu surgimento (1971), o transporta das margens para o centro, por meio da luta pelas igualdades e justiça social espelhada no produto teatral como símbolo da esperança, revelando um processo de emancipação, condição sine qua non, dos oprimidos, permitindo-os posicionarem-se autonomamente através da palavra em contextos sociais, políticos e artísticos.
É uma linguagem teatral que se posiciona a partir do pensamento considerado marginal porque quer refletir as realidades específicas de cada grupo, de cada comunidade, das pessoas que praticam Teatro do Oprimido e ao refletir essas realidades, questiona na sua produção o pensamento dominante. Ao permitir a entrada do espetador no espaço cénico com propostas de modificação da situação de opressão apresentada, o Teatro do Oprimido posiciona-se como o teatro do diálogo entre culturas e contextos sociais dos atores e dos espetadores.
Ana Paula Baião Aniceto: Doutorada em Estudos Culturais com a tese ‘Teatro do Oprimido: uma poética da transgressão. Formando Espect- Atores’ pela Universidade Nova de Lisboa. Mestre em Expressão Dramática e Educação pela Faculty of Education, Birmingham. Licenciada em Formação de Atores pela Escola Superior de Teatro e Cinema.
Iniciou a sua atividade na Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve no ano letivo de 93/94. É atualmente professora-adjunta. Nesta instituição é coordenadora da área científica de Educação Artística. É docente nos cursos de Educação Básica, Mestrado em 1.º e 2.º ciclo Mat/ Ciên, Mestrado em Pré-Escolar, Imagem Animada e Educação Social.
Em 1997 foi cofundadora da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, atriz e formadora na mesma. Desde então tem colaborado com a companhia ao criar em 2001 o programa de Teatro Educativo Interativo com a peça “O Longo Sono da Heroína” e em 2006 “Nexos do Sexo”. É também consultora Pedagógica das oficinas de formação e dos espetáculos para a infância da Companhia de Teatro Profissional de Tavira, Al – Masrah e da Companhia Al - Teatro. Atualmente ministra formação de Teatro do Oprimido nesta companhia. É encenadora e autora da peça de Teatro Educativo Interativo, “Olha ao espelho! O que vês?” Desde 2010 que colabora como atriz e coringa do Grupo de Teatro do Oprimido do Algarve, bem como colabora como atriz e coringa do Grupo de Teatro do Oprimido Pedra no Sapato.
Armando Aguilar de León: «El héroe solar en ilustraciones medievales y en carteles de la Guerra Civil española»
Las representaciones del héroe solar han sido analizadas en los contextos de la historia de las religiones, de la psicología de las profundidades y de los estudios sobre el imaginario. Inicialmente, estas disciplinas enfocaron la fuerza simbólica de la lucha entre el héroe y el monstruo. Con todo, la mitocrítica también se ha interesado en los contenidos sociohistóricos de estas figuras arquetípicas. Desde esta perspectiva, podemos observar que las proyecciones medievales del héroe solar están determinadas por el imaginario cristiano y caballeresco, mientras que durante la Guerra Civil Española este enfrentamiento mítico fue representado de acuerdo con las líneas ideológicas de los bandos contrincantes. Este análisis explora, entonces, los significados sociohistóricos de la iconografía del héroe solar en láminas medievales y en carteles de la Guerra Civil Española con el objetivo de establecer relaciones entre producción plástica, contexto sociohistórico e imaginario heroico.
Armando Aguilar de León: Formado em Língua e Literatura na Universidad Nacional Autónoma de México, com estadas na França e na Holanda, Armando Aguilar de León realiza estudos de doutoramento focados na resignificação sociohistórica dos mitos heroicos gregos no contexto das culturas ibéricas. Interessa-se também nas reescritas ibéricas das tragedias grega e isabelina. Trabalhou na Facultad de Filosofía y Letras da UNAM, no Colegio de Ciencias y Humanidades, também da UNAM e, actualmente, é docente na Universidade Europeia, na ESHTE e na FCSH da UNL.
Benita Herreros Cleret de Langavant: «Las fronteras del Alto Paraguay a fines del siglo XVIII: límites indefinidos y resistencias indígenas»
Durante el siglo XVIII, el espacio del Alto Paraguay fue un entorno sobre el que las monarquías ibéricas trataron de lograr un dominio efectivo y delimitar unos espacios de influencia exclusiva, objetivos que requerían lograr la adhesión de aquellas poblaciones indígenas que hasta entonces habían permanecido autónomas y presentado retos al avance de los colonizadores.
En esta comunicación se partirá del análisis de los esfuerzos que España y Portugal realizaron para cristalizar unos límites fronterizos entre sus dominios americanos, poniéndolos en paralelo con las actividades transfronterizas que cuestionaban estos límites y con procesos de resistencia indígena frente a la consolidación de la presencia europea en la región, con el objetivo de contribuir al debate sobre la construcción de las fronteras y sus transformaciones a lo largo del tiempo.
Benita Herreros Cleret de Langavant: Desde 2017 es investigadora postdoctoral FCT en el CHAM-Centro de Humanidades (FCSH, Universidade Nova de Lisboa), donde desarrolla su investigación sobre la construcción de las fronteras en el espacio del Alto Paraguay en el siglo XVIII y sobre las relaciones interculturales surgidas en este entorno. Ha sido Research Assistant en la Universidad de Reading (UK), y realizó su doctorado en Historia en la Universidad de Cantabria (2016) y el máster en Estudios Latinoamericanos de la Universidad de Stanford (USA) bajo el patrocinio del programa Fulbright. Sus últimas publicaciones son: “Alianzas, negociación y conflictos en las misiones de la frontera chaqueña durante el siglo XVIII”, en V. Favarò, M. Merluzzi y G. Sabatini (coords.) Fronteras. Representaciones, Integraciones y Conflictos entre Europa y América, S. XVI-XX (2017), y “La frontera del Alto Paraguay a fines del siglo XVIII: diplomacia, cartografía y cotidianeidad”, en S. Truchuelo y E. Reitano (eds.) Las fronteras en el Mundo Atlántico (siglos XVI-XIX) (2017).
Carolina Esteves Soares: «A pluralidade de agentes na interacção diplomática entre Portugal e a Grã-Bretanha (1715-1780)»
O foco principal deste projecto são os agentes e as interacções diplomáticas entre Portugal e a Grã-Bretanha, entre 1715-1780. Serão estudadas as seguintes questões: as condições – sociais, políticas e materiais – que marcaram as missões dos agentes diplomáticos; as redes em que estes se inseriam e os laços que construíam; as modalidades (formais e informais) de negociação; a interacção política e cultural resultante dessa actividade; e, ainda, a ligação entre propaganda e diplomacia. Os actores da diplomacia serão integrados na dinâmica social do seu tempo, recorrendo-se à prosopografia (para a caracterização do perfil sócio-profissional dos membros desse grupo) e à análise de redes (para entender o peso das ligações sociais em que se encontravam envolvidos). A finalidade é realizar uma história cultural, política e social da interacção diplomática entre Portugal e a Grã-Bretanha.
Assim, esta investigação pretende responder a duas principais perguntas:
1) De que forma os agentes diplomáticos portugueses e britânicos influenciaram as relações políticas, comerciais e culturais entre Portugal e a Grã-Bretanha?
2) Quais foram as ferramentas, meios e estratégias de negociação que os agentes diplomáticos desenvolveram e qual a intervenção de outros actores (informais) nesse processo?
Uma resposta cabal a estas perguntas obriga ao estudo aprofundado dos métodos de negociação formal e informal, bem como à reconstrução das redes de informação e de influência em que esses agentes se inseriam. Pretende-se aferir o papel dos diplomatas na conformação das relações entre a Portugal e a Grã-Bretanha; a intervenção no processo diplomático de actores informais, como a família do diplomata, as suas mulheres, os espias e os informadores, os artistas, os viajantes e os mercadores.
Esta investigação irá também estudar o perfil sócio-profissional dos diplomatas portugueses e britânicos (cuja composição sabemos ser distinta), e explicar quem protagonizava a decisão política em Londres e em Lisboa no que respeita à política externa. Assim, pretendo identificar os principais actores políticos; confrontar os dois sistemas diplomáticos (à partida distintos pelo carácter parlamentar de uma monarquia e absoluto da outra); e também observar outras entidades externas ao mundo diplomático que poderiam influenciar as suas resoluções (East Indian Company; Almirantado, Feitorias, etc.). A finalidade é entender a relação entre as estratégias definidas pelos governos e a agency dos actores envolvidos na interacção diplomática. O estudo aprofundado destes agentes permitirá compreender de que forma os interesses de indivíduos e de grupos influenciaram o relacionamento entre estes dois reinos, e fazer uma (re)avaliação da estabilidade e pertinência da aliança.
Ao observar estas redes e multiplicidade de actores quero, igualmente compreender em que medida estas interacções diplomáticas envolveram a circulação de modelos culturais, científicos ou políticos.
Carolina Esteves Soares: Mestre em História na especialidade de História das Relações Internacionais pela Faculdade de Letras da Universidade Lisboa e licenciada em História pela mesma Universidade, frequenta agora o doutoramento em História, especialidade em História Moderna, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalho realizado no âmbito da bolsa de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Foi premiada em 2012 com a bolsa da Universidade de Lisboa/Fundação Amadeu Dias pelo projecto A (re) construção do diálogo entre Lisboa-Madrid (1668-1703). No âmbito das investigações para tese de mestrado, fez um estágio na Universidad Complutense sob orientação da Prof.ª Dr.ª Maria Teresa Nava Rodriguez. Foi investigadora bolseira da CIDH – Universidade Aberta / CLEPUL-Faculdade de Letras, participando em diversos projectos científicos como o Dicionário dos Antis. A Cultura Portuguesa em Negativo, o projeto Aprender Madeira e as Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa, coordenados pelo professor José Eduardo Franco.
É igualmente investigadora no CHAM, no CH-ULisboa e também sócia-fundadora do Instituto Prometheus.
Tem desenvolvido os seus trabalhos em História da diplomacia nos séculos XVII e XVIII, focando-se na observação da maquinaria diplomática e dos processos de negociação. Também tem dado particular ênfase ao papel dos agentes diplomáticos na construção de redes de informação e o seu impacto na tomada de decisões.
Eduarda Barata: «As retóricas do poder: alguns casos nas literaturas ibérica e ibero-americana»
Entrar no âmbito da retórica é entrar na paisagem árida de um tema e conceito teórico que, abundantes vezes, tem sido menosprezado como campo profícuo de referências úteis e férteis para os estudos literários (e não só). Tendo sofrido uma ampla descredibilização nos séculos XVIII e XIX, é em alguns países, como na Alemanha, que os estudos da retórica ganham novo fôlego no séc. XX e XXI. E a literatura, nomeadamente as literaturas ibérica e ibero-americana do século XX, abre novas rotas de interpretação e análise, consolidando a retórica nos estudos literários.
Algumas obras do século XX, como Tirano Banderas, de Ramón del Valle-Inclán, El otoño del patriarca de Gabriel García Márquez, Soldados de Salamina, de Javier Cercas, Girasoles Ciegos, de Alberto Méndez, A Balada da Praia dos Cães e Dinossauro Excelentíssimo de José Cardoso Pires, relacionados com períodos históricos de crise ou de ditadura sugerem a criação, através de uma retórica de poder ou desafio a esse poder, de uma memória histórica que se desvia, demarca e desvincula das verdades oficialmente instituídas pelos regimes. É por esta via que a comunicação que apresento irá seguir: tentando demonstrar como, a partir de obras relacionadas com os períodos das ditaduras ou ditadores, se consolidam retóricas de poder que transcendem o tempo e o espaço e se conjugam para formar uma pluralidade de processos de retórica e de memória na construção das verdades.
Eduarda Barata: É assistente de investigação do CHAM – Centro de Humanidades (bolseira) e doutoranda em Estudos Literários Comparados na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sob a orientação científica da Professora Doutora Isabel Araújo Branco. Tem formação em Línguas, Literaturas e Culturas tanto na licenciatura (Inglês e Alemão), como no mestrado (Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos), sendo que para este último apresentou, sob orientação científica da Professora Doutora Maria Fernanda de Abreu, uma dissertação intitulada «Bestiários dispersos em obras de Gabriel García Márquez, Horacio Quiroga, José Cardoso Pires e Miguel Torga», em 2012. Neste momento, além de participar em projectos de investigação, elabora a sua tese de doutoramento sobre as retóricas do poder nas literaturas ibéricas e ibero-americanas.
Júlio Joaquim da Silva: «Francisco Cunha Leal e Gregório Marañon: uma amizade ibérica»
A presente conferência estuda as relações entre duas personagens centrais da política e da cultura ibérica do século XX. A relação de amizade pessoal, nascida de um encontro acidental em Espanha nos anos 30, manteve-se inalterável até ao longo das suas vidas. A comunhão do mesmo ideário democrático e a oposição a todo o tipo de totalitarismos, serviu de base às suas reflexões sobre as questões políticas e culturais do seu tempo. O estudo do universo intelectual, partilhado por ambos, permite-nos compreender a influência do pensamento de Gregório Marañon (1887-1960) nas análises de Francisco Pinto Cunha Leal (1888-1970), do regime salazarista, no início da guerra colonial, nos anos 60.
Júlio Joaquim da Costa Rodrigues da Silva: Doutorado em História e Teoria das Ideia (1999) pela FCSH da UNL. Professor Associado da FCSH da UNL (2011-2018). Coordenador do Doutoramento de História e Teoria das Ideias do Departamento de Filosofia da FCSH da UNL (2013-2018). Investigador Integrado (1987-2013) e Membro do Conselho Científico (1999-2013) do CHC da FCSH da UNL. Investigador Integrado e Membro do Conselho Científico do CHAM da FCSH da UNL (2013-2018). Investigador Colaborador do CEIS 20, da FLUC da Universidade de Coimbra (2007-2018. Membro da Associação Portuguesa de Ciência Política (2004-2018). Membro Efectivo do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar (2007-2018). Investigador Doutorado do Observatório Político (2008-2018). Membro do ECPR (2012-2018). Membro do SHARP (2016-2018).
Lia Nunes: «A anti-biografia de Gregorio Lopez, um homem na-contra-e-além-da religião no século XVI. Conceitos alternativos para histórias alternativas»
Neste trabalho coloco à discussão a forma que encontrei para contar a história do que foi considerado oficialmente pela Igreja Católica o primeiro eremita das Índias Ocidentais, Gregorio Lopez. Dada a existência de uma biografia hagiográfica que surgiu após a sua morte, em 1596, narrativa essa que marcou definitivamente o processo longo e nunca concluído da sua canonização, houve a necessidade de desmontar o discurso representativo da recepção e produção da história de um homem santo. Dessa análise crítica de discurso aparece um homem do século XVI que não se consubstanciou em modelo, mas que podemos tomar como exemplo da enorme complexidade com que os indivíduos lidaram com as enormes mudanças do seu tempo, em particular no que diz respeito ao que denominamos por Religião.
Munindo-me com conceitos e aparatos teóricos de outras ciências sociais, tento entender como se relacionava Gregório Lopez com as estruturas, as ideias, as profissões, as políticas e a até a economia da religião dominante nos espaços e tempos pelos quais ele viajou e nos quais viveu. Na realidade, figurando como uma personagem incontornável, ainda que marginal, na história religiosa ibero-americana do século XVI, Gregorio Lopez leva-nos a muitos contextos geográficos e sociais em que podemos, com ele, questionar a o sistema político-teológico que configurava a existência social de Espanha e Nova Espanha – que, com as salvaguardadas diferenças, podemos comparar com as outras formas que este sistema tomou nas relações entre a Europa, de onde proliferam os Cristianismos, e as Américas, que se tornaram invenções, derivações, ampliações geopolíticas dos variados sistemas das suas metrópoles.
Sem me poder aventurar em definições, mas aventurando-me numa reflexão multidisciplinar, assumo que os contributos de John Holloway, Zigmunt Bauman, Eduardo Viveiros de Castro, Boaventura de Sousa Santos foram essenciais para perceber como me estava a posicionar quando escolhi este objecto de estudo, este sujeito, e esta abordagem biográfica à história. O que pode acrescentar Gregorio Lopez ao nosso conhecimento acerca de um momento histórico tão concreto e complexo senão o exemplo de uma história alternativa? Como se faziam santos na época moderna? E o que nos podem ensinar o seu processo de canonização, a sua biografia e as múltiplas comunidades de interpretação que a receberam, sobre o que era ser cristão na segunda metade do século XVI?
Lia Nunes: Fez recentemente trabalhos de revisão no Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes, na Faculdade de Letras de Lisboa, de Dezembro de 2017 a Fevereiro de 2018. Em 2012 começou o doutoramento na Faculdade de Teologia e Estudos de Religião na Universidade de Groningen, na Holanda, que está na fase final. Obteve bolsa de Gestão de Ciência e Tecnologia (BGCT) para desenvolver trabalhos de investigação no Centro Interpretativo do Mosteiro de Santa-Clara-a-Velha de Coimbra, enquanto realizava o Mestrado em Humanidades Digitais, no âmbito do programa europeu EUROMACHS, entre a Universidade de Coimbra e a Universidade de Turku, na Finlândia. Licenciada em História pela Universidade de Coimbra (2003-2007), fez estágio profissional nos Açores, no Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, em 2008. Tem publicado regularmente sobre a abordagem da biografia à complexidade histórica da época pré-moderna, procurando uma perspectiva crítica sobre a dimensão religiosa nas sociedades ibéricas dos séculos XVI e XVII.
Miguel Rodrigues Lourenço: «A “querela missionológica no Japão” vista pelo Santo Ofício do México (1601-1614)»
Em 1993, no Colóquio Internacional Comemorativo dos 450 Anos de Amizade Portugal-Japão, João Paulo Oliveira e Costa propôs um enfoque sobre o problema da rivalidade ibérica a partir das tensões geradas em torno das estratégias de missionação praticadas no Japão pelos religiosos afectos ao padroado régio português e ao patronato castelhano. Longe de se ter limitado ao contexto nipónico, a “querela missionológica no Japão”, conforme a designou e historiou o autor, desenrolou-se nos palcos políticos europeus de Lisboa, mas sobretudo de Madrid e de Roma através de manobras políticas e diplomáticas e de um conflito panfletário e apologético. Uma das faces menos conhecida deste poliedro de influências políticas e debates doutrinais, no entanto, foi o que teve como centro a Nova Espanha e, em particular, o tribunal do Santo Ofício do México enquanto canal de comunicação entre o Japão, Manila e Madrid. Nesta comunicação pretendemos analisar o modo como a Inquisição novo-hispana geriu as informações sobre a “querela missionológica no Japão”, assim como o conjunto das atitudes institucionais mantidas a respeito de um território sobre o qual não detinha, em princípio, qualquer jurisdição.
Miguel Rodrigues Lourenço: É investigador do CHAM – Centro de Humanidades (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores), do Centro de Estudos de História Religiosa (Universidade Católica Portuguesa) e da Cátedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Encontra-se, presentemente, a desenvolver o seu doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A sua investigação tem incidido sobre as práticas de funcionamento do Santo Ofício em contexto asiático (com especial incidência em Macau, no Japão e nas Filipinas) e das representações cartográficas da Ásia Oriental e Sudeste Asiático nos séculos XVI e XVII. É co-autor de Fontes para a História de Macau no Século XVII (com Elsa Penalva) e autor de Macau e a Inquisição nos Séculos XVI e XVII – Documentos e de A Articulação da Periferia. Macau e a Inquisição de Goa (c. 1582-c. 1650).
Roberta Stumpf: «Abusos e conflitos de poder na Capitania de Goiás na segunda metade do século XVIII»
A atuação dos oficiais fazendários da América portuguesa era avaliada, no caso dos tesoureiros e almoxarifes, mediante a averiguação dos seus livros de contas. A dinâmica deste controle e a sua periodicidade nos conduzem, mais uma vez, para o debate sobre a centralidade de Lisboa na governação do seu Império ultramarino. Entretanto, é preciso saber em que medida este controle dos agentes régios era apenas um ritual a ser cumprido ou se de fato contribuiu para o combate aos abusos de poder. Nesta comunicação daremos destaque a este último ponto explorando um caso pontual que envolveu o Provedor da Capitania de Goiás no Setecentos.
Roberta Giannubilo Stumpf: Mestre em Universidade de São Paulo (2001) e doutora pela Universidade de Brasília (2009) concluiu seu pós-doutorado no CHAM em 2015. Desde 2016 é sub-diretora, investigadora integrada e bolsista do CHAM.
Seus temas de pesquisa mais recentes estão intrinsecamente relacionados às práticas administrativas da monarquia portuguesa sobretudo a questão da venalidade de ofícios nos séculos XVII y XVIII e a corrupção política. Participa em muitos projetos de investigação internacionais, especialmente com universidades espanholas.
Teresa Lousa e Cecília Barreira: «Imaginários do realismo fantástico no mundo hispânico: Julio Cortázar, Remédios Varo e Lima de Freitas»
Em Julio Cortázar (1914-1984) encontramos o jogo das grandes duplicidades, o fantástico e o impossível: encontro da compreensão do real. As palavras não são suficientes: o encontro entre um Eu e um Outro, na impossibilidade, o inqualificável, o desmesurado da existência, uma escrita filosófica profunda. A sua obra pode ser considerada como pertencente ao Realismo Fantástico (modalidade fantástica da literatura não separada da realidade). A pintora Remedios Varo (1908- 1963) através de um imaginário esotérico e hermético tenta através da sua pintura uma tentativa reproduzir o fundo do ser de um modo simbolicamente expressivo, e é talvez por isso que a sua pintura se enquadra no Realismo Fantástico onde se trabalham imagens visionárias e arquetípicas que surgem de uma ligação mítica e simbólica que subjaz a um Inconsciente Colectivo. Lima de Freitas (1927-1998), depois de ter passado pelo neorrealismo, evolui para uma estética ligada a novas leituras e experiências votadas ao inconsciente, à espiritualidade e à transcendência. É assim que o Realismo Fantástico que se anuncia na sua obra sobretudo a partir dos anos 80 e vai determinar a sua pintura e a sua teoria da arte doravante.
Teresa Lousa: Nasceu em 1978, em Lisboa. Licenciou-se em Filosofia na FCSH. O seu interesse por Estética e História da Arte conduziu-a ao Mestrado em Teorias da Arte na FBAUL, que a despertou para o interesse por temas e autores da Teoria da Arte Ibérica, nomeadamente Francisco de Holanda, autor que foi o alvo do seu Doutoramento concluído em 2013. Lecciona Estética desde 2008 e apresenta diversas sessões temáticas ao 3.º ciclo (doutoramento em Ciências da Arte e do Património) na FBAUL. Actualmente é investigadora integrada do CHAM onde colabora com o Sub-grupo Gerações Hispânicas coordenado pelo Professor José Esteves Pereira. Tem participado em múltiplos colóquios internacionais e escrito artigos e capítulos em antologias em torno de temas tão diversos como: Humanismo, Renascimento, Neoplatonismo, Furor Divino e Inspiração, Melancolia, Arte Macabra, Estética do Horror e Repulsivo, Morte e Arte, Estética e Sagrado, Sublime, Teoria do Génio, Arte visionária e êxtase, Arte e Género, Pluralismo estético, Hispanismo, etc...
Cecília Barreira: Professora Auxiliar Agregada em Cultura Portuguesa Contemporânea na FCSH-UNL. Especialista em Pensamento de Autores Portugueses Contemporâneos. Investigadora da Linha de Investigação Leitura. Investigadora colaboradora do Sub-grupo Gerações Hispânicas do Grupo Cultura, história e pensamento ibéricos e ibero-americanos do CHAM-Centro de Humanidades (UNL).